Por que surgiu o Lapee?

20/07/2020 09:54

 

Por que surgiu o Lapee?

Leandro Castro Oltramari

O Laboratório de Psicologia Escolar e Educacional (LAPEE) surgiu dos anseios da professora Denise Cord e do professor Adriano Henrique Nuernberg, que haviam participado do LAESP, Laboratório de Educação e Saúde Popular, um histórico laboratório que foi muito importante para o Departamento e que findou nos idos de 1997. Essa professora e esse professor, juntamente com outros professores, pensaram na fundação do LAPEE, como um laboratório para contribuir na formação dos estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, principalmente para ser um suporte àqueles estudantes que escolheriam a ênfase de Psicologia Escolar e Educacional, articulando assim ensino, pesquisa e extensão. Além disso, viram esse momento como fundamental para a criação de um laboratório específico para a discussão da Psicologia Escolar e Educacional e sua relação com os processos de escolarização e educativos de maneira ampla. Assim, surge, em quarenta anos de Departamento de Psicologia, um laboratório especificamente para esse fim.

Forma-se o LAPEE. À medida que os professores recém-ingressantes da Ênfase Escolar e Educacional entravam no Departamento, organicamente foi-se estruturando o laboratório. Hoje ele não está restrito apenas ao Departamento de Psicologia. Temos professores do Departamento de Educação, técnicos da UFSC, assim como professores de outras universidades. Contamos com a participação de estudantes em nível de graduação e também pós-graduação. Com isso constituímos as discussões de maneira ampliada sobre a Educação e a relação com a Psicologia, abordando desde assuntos atrelados aos processos de escolarização, aprendizagem e desenvolvimento, até debates sobre os processos educativos fora do espaço escolar.

Mas com essa diversidade de interesses e pesquisadores, o que faz o laboratório ter um corpo coeso, em suas pesquisas e projetos? Apesar da diversidade do campo de estudo e mesmo intervenção, existe neste laboratório um comprometimento ético-político com suas pautas que é sua grande bússola.

Os pesquisadores e participantes do LAPEE partem de vários princípios, sendo o primeiro deles a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. Parte de premissas hoje tão castigadas pelos discursos de senso comum, como direitos humanos, o antirracismo, o anticapacitismo e a igualdade de gênero. Debate a importância dos espaços públicos como espaços educativos e da cultura como um bem que deve ser acessível a todos.

Além disso, defende a cultura de grupos considerados “minoritários”, fora daquilo que se considera “convencional” e defende esses processos culturais como dignos e importantes de serem estudados, compreendidos e valorizados. Entende e compreende as mídias como fontes importantes de educação e de constituição das subjetividades e que, por isso, merecem ser cuidadosamente estudadas em sua relação com a educação, mas não tomadas como a “panaceia” revolucionária que vai nos redimir de todos os males da educação, como muitas vezes a designam.

Defende a formação de professores como um campo fundamental de ocupação dos conhecimentos psicológicos, como uma ferramenta que dê voz à potência dos sujeitos que aprendem e que possibilite sucesso e não fracasso escolar. Que esta psicologia não fundamente as estereotipias causadas por um psicologismo que “despotencializa”, reduz e traz ainda mais sofrimento e desalento às camadas mais vulneráveis da população.

Temos por premissa, independentemente de nossas abordagens teóricas, pois são várias, um compromisso. O compromisso que temos, por sermos de um laboratório em uma universidade pública, é de produzirmos conhecimento comprometido com os princípios éticos e científicos da nossa ciência, a Psicologia. Mas, como falamos, não “qualquer” psicologia. Uma Psicologia maiúscula, crítica, que busque uma nova utopia, no sentido de perspectiva futura a tudo aquilo que já fez, propôs ou está propondo. Defendemos principalmente as ações que não tenham o “Sujeito” como um complemento, mas como o substantivo maior de nossas ações, e que essas sejam o motor necessário para a transformação do que desejamos.

Em tempos de “terraplanismos” das mais variadas ordens, sejam elas geográficas, jurídicas ou mesmo psicológicas, o LAPEE se coloca como uma voz corrente na defesa daquilo que acreditamos, dos fundamentos pelos quais lutamos e dissonante das posições totalitárias, antidemocráticas e não-científicas às quais nos contrapomos.

Defendemos que os conhecimentos deste laboratório tão diverso, mas tão comprometido com suas pautas e lutas, revelem quem somos, não apenas por nossas publicações e currículos, burocracias necessárias e pertinentes ao mundo acadêmico. Mas que revelem quem somos por nossas ações de envolvimento e comprometimento com as pautas que elegemos como prioridade pelo coletivo de nosso laboratório, sem esquecermos nunca que “Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter”, como recita Humberto Gessinger numa canção. Avante!